Se tem uma coisa que os moradores da comunidade remanescente de quilombo de Batuva gostam mais que café e inhame é receber bem seus hóspedes. Em minhas visitas à comunidade me senti melhor que em casa, a comida era farta, o tratamento familiar e a paisagem constituída por Mata Atlântica e as humildes casas, porém bem construídas, era o incentivo para caminhar o quanto fosse necessário.
É uma pena que uma comunidade tão bonita com habitantes tão agradáveis seja negligenciada pelo estado como é. Não digo que não existam programas do governo para tentar melhorar a vida da população, como as distribuições de terras para as comunidades, porém a burocracia e a má vontade, tanto de burocratas quanto de alguns membros do governo, dificultam o acesso das comunidades à informação sobre os programas e a execução dos mesmos, uma vez que as comunidades se inscrevem. Dentre as dificuldades que a comunidade de Batuva, e muitas outras pelo país (não só remanescentes de quilombos como as das outras modalidades de comunidades tradicionais) estão a comunicação com outras regiões, a falta de projetos de melhoria no saneamento básico e na distribuição de energia elétrica e a pouca infraestrutura em relação à saúde e à educação, tanto os postos de saúde quanto as escolas são muito distantes da comunidade e o transporte, que deve ajudar os moradores, se encontra frequentemente em manutenção em razão da má qualidade das estradas que levam à comunidade.
As restrições que são aplicadas sobre as atividades dos moradores da comunidade pelas leis que protegem reservas florestais (Batuva, que fica no município de Guaraqueçaba-PR, está dentro de uma área de proteção ambiental estadual e federal) e a rapidez com que a força policial atua para reprimir tais atividades (repressão muitas vezes injustificada, já que algumas atividades, como caça ou pesca, devem ser permitidas aos moradores de comunidades tradicionais) também dificultam a vida pacífica da comunidade.
Não só pelo dia da Consciência Negra, mas por alguns acontecimentos políticos do último ano em relação às distribuições de terras no Paraná e ao polêmico código florestal e por bom senso mesmo, por saber (se não sabia, sabe agora) que comunidades que além de serem hospitaleiras carregam uma bagagem cultural riquíssima são ameaçadas pela burocracia estatal, devemos começar a debater acerca do que podemos fazer para ajudar as centenas de comunidades remanescentes de quilombos que estão Brasil adentro.
Indico o link do site da UNE como dica de leitura: http://www.une.org.br/2013/11/20-de-novembro-celebrar-o-direito-a-memoria/
Texto e fotos: Felipe Sebastian Perez (1º ano do EM)
Parabéns por lembrar de Guaraqueçaba, sabendo também que é lá que resiste o fandango, cultura esta retratada pelo grande historiador, compositor e radialista Inami Custodio Pinto.
Quanta satisfação ao conhecer este trabalho, pelo protagonismo, por sua relevância no papel de resgate de cada história do resistência dos irmãos africanos aqui escravizados. Parabéns e aqui bou garantindo a minha colaboração ao divulgar e promover. Um forte abraço direto do Sertão de Pernambuco.